20 de novembro de 2011

É tarde


   Sabe aquela garota que você não se importava totalmente? Aquela que você ria quando ficava com ciúmes? Aquela garota carinhosa que mandava mensagem de bom dia e se preocupava com as suas burradas. Aquela que lembrava de cada data importante que passaram e você se perguntava o quão tola ela podia ser. Aquela que te amou. Aquela que você abandonou mais uma vez em um dia de chuva. Pois é, ninguém a viu mais. A última vez que tiveram notícias suas, ela se encontrava num bar. Se enchia de doses de whisky, maquiagem borrada, tragava um cigarro no fim, destruída por dentro. Trazia consigo uma foto sua.
    Acalme-se meu amigo, não pense no pior. Ela ainda se encontra viva. Se é que se importa com isso. Pois bem, não deveria lhe contar, mas ela mudou. Talvez a garota meiga que tenha conhecido não exista mais. Mas garanto que é a mesma pessoa.                    
   Ela rasgou sua foto. Os pedaços da tal fotografia voaram, invadindo o meio da rua. Brilhavam com a luz de um velho poste, naquela rua deserta. Levantou-se da calçada esburacada com o copo de bebida na mão, enxugou suas lágrimas, retocou o batom tomando o último gole e jogou o copo no chão, fazendo com que os cacos de vidro caíssem em cima dos pedaços da foto. Dali em diante, tudo mudou. Saía sem se preocupar se amanheceria viva. Passava seu telefone com o número errado e fazia todos sentirem o gosto de seu beijo por apenas uma noite. Assim como você fazia.            
   Nos primeiros meses, ela ainda se lembrava de tudo. Sentia a dor de seu coração rasgado ao meio e a nostalgia dos tempos que se foram. Sentia a dor de um amor que morreu, sendo que na verdade, nunca foi capaz de nascer. Mas nada que um pouco de ecstasy não resolvesse.                                    
   Naquela madrugada que buscava ansiosamente por notícias dela e na esperança de um pedido de desculpas resolveu lhe telefonar, ela não se encontrava  em casa. Então deixou um recado na secretária eletrônica, que foi gravado. Quando amanheceu, ela ouviu apenas um “Oi. Bom... Nem sei o que dizer. Só queria ouvir sua voz. Me desculpe”, confusa, apagou o tal recado. Ela não telefonou de volta achando que fosse um dos caras que saiu na noite passada.                                                             
   Agora vaga por aí, sem rumo, sem direção. Causando a euforia juntamente com o caos. Olha meu amigo, você sim, foi o único a quem realmente pertenceu seu coração. Mas esqueça, agora é tarde. Ela não se lembra mais. Desculpe.

(Thais)