O que eu tinha pra
dizer sobre o que sentia não deixava que as palavras auxiliassem no seu sentido,
e só na terceira dose de whisky percebi o quanto as palavras atrapalhavam tudo.
Senti-me melhor assim, largado no sofá pensei: Sempre a culpa foi das palavras,
fosse ora pelo excesso ora pela falta. Mantinham a garganta engasgada na agonia
de sentir e apenas sentir. Recuavam quando era a vez delas de fazerem o show e sobravam
aos montes quando a luz do púlpito se apagava. Talvez nisso elas quisessem me
ensinar algo, mas o que era exatamente? Aprendi muitas coisas inclusive a transferir a culpa para elas, para sua falta de aplicação mesmo carregadas de significado e de... Nada.
Logo aprendi
nada, então. Logo tudo não passou de devaneio e mera falta de folego para
correr mais uma maratona atrás de algo, uma resposta ao que só eu sentia. E se só eu sentia
porque me cansara tanto? O que saíra de mim a mim retornaria um dia, mesmo que
não transbordasse do meu corpo em forma de palavras. Palavras são moribundas e já estão
obsoletas, não valem um só centavo
comparado ao valor do que destila dentro, o que tem valor não esta a mostra na
vitrine, é peça de museu, arte fina para apreciadores da arte, mesmo que apreciar arte não seja definir o belo e sim, senti-lo... Oh, veja lá, algo antigo e ao mesmo
tempo atual, esculpido vivo como a seis mil anos atrás, passado pelas catástrofes do
tempo a espera de palavras para traduzi-lo, e estas palavras, ou melhor, a falta delas, que me trouxeram para esse sofá
com uma garrafa vazia e o peito cheio de...