24 de abril de 2015

--------------------------------

  O que eu tinha pra dizer sobre o que sentia não deixava que as palavras auxiliassem no seu sentido, e só na terceira dose de whisky percebi o quanto as palavras atrapalhavam tudo. Senti-me melhor assim, largado no sofá pensei: Sempre a culpa foi das palavras, fosse ora pelo excesso ora pela falta. Mantinham a garganta engasgada na agonia de sentir e apenas sentir. Recuavam quando era a vez delas de fazerem o show e sobravam aos montes quando a luz do púlpito se apagava. Talvez nisso elas quisessem me ensinar algo, mas o que era exatamente? Aprendi muitas coisas inclusive a transferir a culpa para elas, para sua falta de aplicação mesmo carregadas de significado e de... Nada.

    Logo aprendi nada, então. Logo tudo não passou de devaneio e mera falta de folego para correr mais uma maratona atrás de algo, uma resposta ao que só eu sentia. E se só eu sentia porque me cansara tanto? O que saíra de mim a mim retornaria um dia, mesmo que não transbordasse do meu corpo em forma de palavras. Palavras são moribundas e já estão obsoletas,  não valem um só centavo comparado ao valor do que destila dentro, o que tem valor não esta a mostra na vitrine, é peça de museu, arte fina para apreciadores da arte, mesmo que apreciar arte não seja definir o belo e sim, senti-lo... Oh, veja lá, algo antigo e ao mesmo tempo atual, esculpido vivo como a seis mil anos atrás, passado pelas catástrofes do tempo a espera de palavras para traduzi-lo, e estas palavras, ou melhor, a falta delas, que me trouxeram para esse sofá com uma garrafa vazia e o peito cheio de...

14 de abril de 2015

Do que sentiu, do que és.

Onde há sentimento
há forças ocultas
Que fala ao vento
Lhe sobe as alturas
E sempre há o revés 
por sentir demais
Solidão por si só 
Não dita avais

Sempre há esperança 
em não se esperar nada
Mas há desconfiança
quando a carne não falha

Sorriso e choro
no mesmo esplendor
porque nunca sabe-se
o que leva à dor 
[no cristalizado de sensações não se sabe diferenciar dor 
de outras alegrias] 

Talvez o que foi
já não mais será, 
[a não ser nas memórias.] 

E o que sempre foi
continua a andar.
Nos caminhos tantos
jamais saberei
com quantos discípulos
torna-se rei?




1 de abril de 2015

Pesca insuluvel

Pesca insolúvel - E ora nos diluímos, as partes, caindo e deixando que caia o que resta de incompreendido no fundo da taça. Nos naufragamos nas bordas e tampouco lembramos de descer ao que nos bebe, até o ultimo gole, um pouco de ternura. Sempre que não diluimo-nos totalmente, não estamos praticando oque a alma precisa para se tornar leve, talvez livre. Não permitimos que o corante das essências corroa a incolor praticidade dos passos dos dias-as-dias. E ao acordar deste devaneio, entram as almas mais prepotentes em cólera, aos impotentes cabe apenas a aceitação e distração. Aos que se permitem corroer pelas multilaterais sensações do ser, apenas sentem a fisgada que é sentir-se propriamente o que és. Mil vezes depois de ter-se diluído totalmente. Totalmente?